quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mercosul:18 anos!

Esta semana o Mercosul completou 18 aninhos! Qual o balanço que você faz desse tempo? Dê sua opinião!

Ab.,

Érica



Mercosul completa 18 anos: bom momento para pensar o futuro

Valor Econômico – 05/05/2009


O setor privado brasileiro almeja uma zona de livre comércio, realmente livre de barreiras tarifárias e restriçõesO Mercosul está completando 18 anos. O momento é propício para uma reflexão sobre o processo de integração. A crise mundial representa novo desafio para o Mercosul. Pensar sobre os rumos da integração nesse cenário de dificuldades econômicas determinadas pela redução da demanda mundial, pela queda dos preços das commodities, pelo enxugamento das linhas de crédito e pelo acirramento do protecionismo é uma tarefa desafiadora para governos e para empresários.

A estratégia de priorizar a integração do Cone Sul, que vem sendo adotada pelos governos brasileiros desde então, tem sido amplamente respaldada pelo setor privado, em geral, e pela indústria, em particular. O Mercosul desempenhou e continua a desempenhar importante papel na internacionalização das empresas brasileiras.

Os dados do comércio com os parceiros do bloco mostram um resultado extremamente favorável ao Brasil. Em 2008, o superávit brasileiro com os sócios foi de US$ 6,8 bilhões. Desse total, a Argentina foi responsável por US$ 4,3 bilhões. Entre 2004 e 2008, o saldo comercial do Brasil praticamente triplicou.

A importância do intercâmbio comercial do Brasil com os sócios para a indústria brasileira reside na composição das nossas exportações. Essa composição evidencia uma contribuição especial de produtos industrializados. Em 2008, dos US$ 21,7 bilhão vendidos pelo Brasil ao Mercosul, os produtos industrializados representaram 95% do total.

O Mercosul também tem sido importante destino de investimentos diretos de empresas brasileiras em processo de internacionalização. A Argentina, em particular, tem recebido investimentos importantes de empresas brasileiras de portes variados e atuando em diversos setores. A contribuição do setor privado brasileiro para a recuperação industrial daquele país tem sido notável em setores como o siderúrgico, o têxtil, o automotivo e de autopeças, o químico, dentre outros.

As relações políticas e econômicas entre o Brasil e os parceiros do Mercosul, ao longo dos anos, mostram avanços irrefutáveis. Não foram poucas as oportunidades em que os foros de diálogo do bloco propiciaram a superação de conflitos, seja na esfera econômica ou no campo político. Mas continuamos enfrentando muitos desafios. Para o setor industrial, o mais premente deles é a solução para o déficit de implementação dos compromissos acordados e da instabilidade de regras comerciais, que contribuem para um clima de incerteza para a atuação empresarial.

O setor privado brasileiro almeja uma zona de livre comércio no Mercosul, realmente livre de barreiras tarifárias e restrições não-tarifárias. Almeja, também, uma união aduaneira perfeita, caracterizada por uma Tarifa Externa do Mercosul sem exceções e por um Código Aduaneiro Comum que consolide a política comercial dos países em relação ao exterior.

O Brasil encerrou, em 2008, a presidência brasileira pro tempore do bloco com a frustração de: I) não ter obtido a aprovação do Código Aduaneiro do Mercosul; II) não ter concluído a tarefa de eliminação da dupla cobrança da TEC intra Mercosul; e III) não ter alcançado um compromisso entre os países sobre a distribuição da renda aduaneira.

Os avanços também foram escassos na agenda de negociações externas do Mercosul. Os acordos firmados têm pouco significado econômico. No período recente, diferenças nas políticas econômicas e nas preferências por modelos de inserção internacional tornaram mais difícil manter a coesão do bloco nas negociações externas. Para nós, a solução é focar nos interesses econômicos para viabilizar acordos comerciais de maior peso, incluindo acordos com países desenvolvidos, e continuar trabalhando para a conclusão bem sucedida da Rodada Doha da OMC.

Por fim, entre os grandes desafios do Mercosul está a adesão da Venezuela ao bloco. Os interesses econômicos do Brasil na Venezuela são relevantes. O superávit comercial brasileiro, em 2008, foi de US$ 4,6 bilhões. Contudo, esse resultado não dependeu da adesão do país ao Mercosul, cujo Protocolo ainda não foi aprovado pelo Congresso brasileiro. A avaliação da CNI é de que a adesão seja concluída no momento em que houver equilíbrio entre direitos e obrigações. Neste sentido, será importante contar previamente com a adesão da Venezuela às normas já aprovadas pelo Mercosul, bem como garantir o acesso ao mercado venezuelano.

A crise mundial representa, em si, o maior desafio para o processo de integração. A queda da demanda mundial e a ausência de crédito estão contribuindo para o acirramento do protecionismo, que pode se converter no maior perigo para o processo de integração entre os países. Os números do comércio nesses dois primeiros meses do ano revelam uma retração importante, comparativamente aos meses do ano passado.

As exportações brasileiras para o Mercosul experimentaram uma queda que beira os 50%. Neste cenário, não nos parece conveniente a adoção de restrições ao comércio que não contribuem para a superação da crise e, por outro lado, tendem a provocar conflitos setoriais com impactos nas cadeias produtivas.

A criatividade será importante neste período de dificuldades. Instrumentos como o comércio em moeda local - mecanismo já existente entre Brasil e Argentina - poderão contribuir para a recuperação dos fluxos comerciais. A realização de estudos sobre acesso a novas linhas de crédito e também sobre medidas de aperfeiçoamento do Convênio de Crédito Recíproco - o CCR que é utilizado no comércio na esfera da Aladi - podem apoiar o processo de integração, evitando retrocessos nos compromissos do Mercosul.

Armando Monteiro Neto é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

2 comentários:

Rodrigo Souto Maior disse...

Bem lembrado, querida colega. E essa lembrança me trouxe à memória uns versos de
Vinicius. O poetinha, tendo servido em Paris, Los Angeles e em moças dos 5
continentes, escreveu assim sobre a maioridade:

"(...) Nasceste para o Sol; és mocidade / Em plena floração, fruto sem dano / Rosa que
enfloresceu, ano por ano / Para uma esplêndida maioridade.

Ao Sol, que é pai do tempo, e nunca mente / Hoje se eleva a minha prece ardente: / Não
permita ele nunca que se afoite

A vida em ti, que é sumo de alegria / De maneira que tarde muito a noite / Sobre a
manhã radiosa do teu dia."

Evocando a itamaraticidade dos versos - ou de seu autor -, temo apenas que a
indolência política de alguns faça prece parecida, pedindo ao Sol que não deixe nossa
moça ser mulher, depois senhora, e prenda os seus membros – nós todos com eles – a uma
perene e imprópria juventude.

Pra não dizer que divaguei apenas, nessa semana vi parte dos debates sobre o ingresso
da Venezuela às entranhas de nossa moça. Insignes congressistas, como nosso collorido
ex, resistem à proposta sob argumentos personalíssimos. Não gostam de Chaves e acham
que isso basta.

Supla estava lá, de terno roxo e cabelo em pé, vendo o seu papito pelejar – como
sempre bem – pela aceitação do parrudo caribenho. Pedro Simon deu força a Suplicy, e,
de quebra, um passa-fora no presidente da mesa, que tentou apressá-lo para que nosso
chanceler não perdesse o vôo (“o vôo é importante, Exa., mas a integração é mais
importante”). O gaúcho senador falou então por 15 min. sobre as guerras de fronteira,
sobre o 1/3 do contingente militar que já esteve no RS, sobre a penúria da região
próxima à Argentina, sabotada pelos militares. Enfim, disse que o problema era o com o
Prata e, agora que resolvemos isso, não há porque parar o bonde.

Concordo com ele. Até porque periga de a História, essa safada, andar mais rápido que
o tal elétrico latino, e ficarmos, novamente, a ver navios, dizendo baixinho que somos
aqueles do futuro.

Abraços

Rafael Baleroni disse...

Inspirado pelo Celso Mello: "Meus senhores, o Mercosul não existe." rsrsrs

Falando sério agora, acho que o problema é que as pessoas têm uma esperança de que o Mercosul se transforme em uma União Européia. E vale lembrar também que a UE só virou o que é depois de duas décadas de lentidão na integração.

Acho que se ficarmos restritos a seus objetivos, o Mercosul não foi tão ruim assim. O comércio entre os países do Mercosul aumentou no período de sua existência.

Mas ainda não temos verdadeira tarifa comum no Mercosul e mercadorias re-exportadas dentro do bloco ainda pagam duas tarifas aduaneiras. Antes de pensarmos em querer transformar o Mercosul em UE, precisamos resolver esses assuntos mais imediatos.

Abs., Rafael Baleroni